Enquanto a Igreja Primitiva (ou mesmo a Igreja dos tempos da Reforma) incendiou
o mundo antigo, o evangelicalismo moderno acendeu um fósforo, fazendo uma analogia
com um texto sobre Baxter no livro.
Querendo Deus levantar um homem nos moldes de Lutero ou Calvino, a multidão de acendedores de fósforos sumiria.
Richard Baxter é um incendiário do Reino que merece destaque no livro de Bonar.
Contam os historiadores que qualquer pessoa que entrasse em contato com Baxter e o
ouvisse pregar saia com uma sensação única, pois para ele ganhar almas era a coisa mais importante na face da terra.
Ganhar almas não sem entendimento ou para criar números impactantes, mas para a glória de Deus!
Este era o segredo do ministério de Baxter.
Trazendo à tona um problema dos nossos dias, fazendo um link com a leitura de Bonar, a igreja atual tem pouca força na área de disciplina – com isto quero dizer que a igreja tem tratado com grande tolerância e relativismo os pecados da congregação, e
conseqüentemente não consegue cortar o mal de suas fileiras, tornando-se homogênea,
cinzenta e frágil.
Os líderes não conseguem cobrar por falta de exemplo e integridade, e muitos infiéis são tratados como fiéis.
Tudo fica pasteurizado e nivelado por baixo.
Daí não é a toa que o poder de evangelismo se esvai.
Hoje, tornar-se zeloso e devoto pode ser um passaporte para a zombaria e
perseguição.
Certamente o título de hipócrita e desonesto irá perseguir todos aqueles que
entendem que há um Salvador, criador de um céu e de um inferno.
Em contrapartida, há os aparentes zelosos pela causa de Cristo, mas não há transmissão de convicção.
É do tipo de Comandante que grita: “vão em frente!”, mas dá um passo para trás.
As grandes doutrinas da graça são pregadas como quem conta a estória de um filme chato que acabou de passar na TV.
“Um sermão sem vigor causa repugnância; um sermão sem ousadia faz uma pobre
alma dormir mais depressa; um sermão vigoroso e ousado é o único tipo de sermão que é
devido a Deus”, diz Rowland Hill.
Não se trata aqui de uma pregação inflamada pentecostal, onde há mais gritos e berros que doutrinas.
Não!
Trata-se de uma pregação bíblica centrada na supremacia de Cristo.
E hoje, é o que menos se escuta.
Há muito mais entretenimento que pregação propriamente dita.
Os pastores atuais estão mais para a psicologia e auto-ajuda.
Freud e Jung têm feito mais adeptos que Calvino.
Mas deixemos de lado os liberais e voltemos aos ortodoxos frios.
Um pastor pode possuir todo o crédito na praça da doutrina e conduta social, e ainda assim ser um paralelepípedo no meio do rebanho, fazendo o povo tropeçar e não
crescer espiritualmente.
Este é o ponto que Bonar enfatiza tanto em seu livro.
Diz Bonar que tal ministro pode ser um poço vazio e seco, uma contradição quanto à sua ortodoxia.
Contextualizando, tal ministro pode estar pregando sobre o caminho para a vida, e ao
mesmo tempo estar esfriando ou estragando a vida de um ouvinte.
Ele age como um repelente.
Escreve o autor: “As mesmas palavras que de lábios ardorosos cairiam como
uma chuva copiosa, ou seriam destiladas como o orvalho da manhã, caem dos seus lábios
como a neve fria ou como granizo trazendo um esfriamento gélido e destruindo qualquer
sinal de vida espiritual.
Quantas vidas tem se perdido por falta de seriedade, falta de solenidade e falta de amor na pessoa do pregador, mesmo quando as palavras proferidas são preciosas e verdadeiras!”.
Esta sentença deveria fazer tremer o chão do púlpito de muitos pregadores.
Saindo um pouco das páginas do livro, aqui cabe uma exortação aplicável do
Reverendo J. Marcellus Kik, que disse: “A Palavra de Deus é tão poderosa em nossa
geração quanto era durante a história antiga da Igreja.
O poder do Evangelho é tão forte neste século quanto era nos dias da Reforma.
Estes inimigos poderiam estar completamente eliminados se os cristãos de hoje, de nossa era, fossem tão vigorosos, tão ousados, tão zelosos, de tanta oração e fidelidade quanto eram os cristãos nos primeiros séculos e na época da Reforma”. Realmente, o que mais precisamos senão pregar o Evangelho sob direção do Espírito Santo?
Não há como evangelizar o mundo sem fazer nada!
Se continuarmos fazendo pouco dos objetivos da Grande Comissão, que é levar pecadores ao arrependimento e edificar a Igreja, estaremos fadados ao fracasso! Quando perdemos o objetivo maior da perspectiva missionária, DE NADA ADIANTA “aplausos, fama, popularidade, honra e riqueza”, tudo é em vão.Diz Bonar em tom de sentença: “Se vidas não são ganhas, se os santos não são amadurecidos, o nosso próprio ministério será um fracasso”.
Irmão, irmã, qual é o seu objetivo, qual o desejo do seu coração?
Seria salvar o perdido e guiar aquele que já está salvo?
São perguntas que surgem no decorrer do livro em questão. É para respirar fundo, clamar misericórdia e se auto-examinar.
Cada visita que você faz, cada pregação sua, qual é o seu alvo?
Será mais um item quitado de sua agenda ou faz parte de uma profunda convicção ministerial?
O que te faz orar e servir?
Quantas vezes você já chorou ao ver um irmão em pecado?
Saiba que o padrão bíblico não é chorar apenas, mas dar a própria vida por outro irmão.
Ser instrumento para a salvação de outros é algo que não se realiza sem esforço e ação.
Há coisa mais incrível do que despertar da morte um pecador?
É glorioso!
Mas não sem trabalho exaustivo.
O apóstolo Paulo disse que “sofria dores de parto” pelos seus
“filhos” na fé – Cf. Gl 4.19.
Terríveis dores de parto, nada comparado às dores de cabeça
pastorais!
Horatius Bonar cita em seu livro vários ensinamentos dos servos bons e fiéis,
como Owen: “Servos são raramente honrados com sucesso a menos que eles estejam
CONTINUAMENTE almejando a conversão de pecadores”.
Hoje, ironicamente, o que vemos?
Ministros “decretando” riquezas, curas, sucessos amorosos, etc., ao invés de
determinarem resolutamente confrontar todo tipo de dificuldade para ganhar almas! Esta é a marca da Igreja individualista e hedonista de hoje!
O objetivo maior não deve ser encher a Igreja, mas encher a Cristo de alegria.
“Muito bem, servo bom e fiel”, quem ouvirá estas palavras?
O que deve ser feito, então?
Pregue e viva a Palavra!
Pregue o Evangelho da graça de Deus ou não pregue nada!
Como disse Bonar: “Todas as outras coisas são nada mais que elementos narcotizantes, drogas e charlatanices”.
Richard Baxter dizia que raramente descia do púlpito sem que a sua consciência o
ferisse por não ser cuidadoso e fervoroso como devia.
A grande questão que ele levanta é:como um pregador pode falar da vida e da morte com frieza?
Como falar de Céu e Infernocom desinteresse e sonolência?
Como falar da Cruz de Cristo e ao mesmo tempo fazer a
audiência se sentir confortável?
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