como se alimentava o povo bíblico
Um amplo e detalhado trabalho de pesquisa dos textos sagrados da Bíblia deu origem a uma obra extremamente interessante.
De autoria de Naomi Goodman, Robert Marcus e Susan Woolhandler, Receitas Inspiradas da Bíblia (Editora Melhoramentos) traz, com profundo embasamento histórico, pratos experimentados por personagens bíblicos e pelos povos citados no Livro Sagrado.
A obra revela que os autores estudaram todas as passagens da Bíblia e souberam interpretar o que não ficou tão claro.
"Embora a Bíblia não dedique atenção especial aos alimentos que as pessoas consumiam nem a seu preparo, são raros os capítulos que não contenham alguma alusão aos vários tipos de alimentos da época ou ao modo como eram preparados e consumidos", afirma George M. Landes, doutor em Teologia e professor de Arqueologia Bíblica.
Assim, além de preciosas receitas, o leitor terá em mãos um excelente resgate da história sagrada.
A época referida na obra tem início no ano de 3000 a.C. e vai até o ano de 100 d.C. Os autores destacam que a culinária mencionada na Bíblia era extremamente saudável, sendo recomendada até hoje por médicos e nutricionistas.
Por exemplo, os pães eram preparados com cereais integrais, as pessoas tinham basicamente uma dieta vegetariana, com muitas frutas, legumes frescos e também bastante leite e seus derivados.
A carne vermelha só era ingerida em ocasiões especiais e o açúcar refinado ainda não existia. "Na Terra Prometida, que proporcionava leite e mel, trigo e uvas, cevada, figos e azeitonas em abundância, o povo bíblico construiu uma poderosa nação, fundamentada em exclusivos princípios religiosos.
Esses princípios, que inclusive disciplinavam a combinação e a manipulação de alimentos, proibiam o consumo de carne e laticínios numa mesma refeição, distinguindo a culinária hebraica das demais".
CURIOSIDADES - Entre as muitas curiosidades reveladas está a da rainha Ester. Segundo a lenda, ela só comia sementes, legumes e verduras, de acordo com os preceitos judaicos.
Porém, para livrar seu povo da morte, Ester decidiu impressionar o rei Assuero oferecendo-lhe um banquete com pratos persas, incluindo uma sopa de iogurte e almôndegas.
O povo da Bíblia consumia cereais em todas as refeições, de várias maneiras diferentes.
Também muitas cerimônias sagradas eram realizados com cereais.
"Rituais que utilizavam cereais eram parte das festividades.
A colheita da cevada ocorria no início da primavera, época da Páscoa; sete semanas depois, o trigo era colhido por ocasião do Pentecostes.
Feixes de trigo eram depositados sobre o altar de Deus em sinal de gratidão".
"Essa relação entre os propósitos de Deus e a produção de alimentos foi fundamental ao espírito daquele povo.
Nada do que acontecia na natureza era considerado casual."
Uma das receitas mais famosas da história, o Guisado de Esaú, também está em Receitas da Bíblia.
E até hoje, nos países onde viveu o povo bíblico, o prato leva o mesmo nome e é elaborado da mesma maneira.
Assim como o assado do Sabá.
Pelas leis vigentes, e de acordo com os Mandamentos, qualquer trabalho era proibido no sábado.
Então, no dia anterior, antes do pôr-do-sol, as mulheres preparavam e assavam o cordeiro que seria a refeição do dia seguinte.
"Os registros deste método de cozimento remontam à época do Segundo Templo, por volta do tempo em que Jesus viveu na Terra".
O PÃO NOSSO - Um dos alimentos mais citados em toda a Bíblia, entretanto, é o pão.
"Há vários trechos em que irmãos se reúnem para comê-lo, o pão é oferecido a um estranho, e Deus oferece pão a seu povo.
Jesus descreve a si mesmo como o Pão da Vida".
No início, o pão era feito sem lêvedo. No dia da colheita de cevada, havia a Festa dos Pães Ázimos.
Séculos depois, o sistema de refinamento usado no Egito, Mesopotâmia e em Roma deram mais sofisticação ao pão, que se tornou semelhante ao que se come hoje.
Com os egípcios, os hebreus também aprenderam técnicas mais avançadas para assar o pão.
"Os papiros do antigo Egito registram mais de trinta variedades de pão".
Os autores de Receitas da Bíblia afirmam que a receita do pão de Ezequiel é uma das mais especificadas da Bíblia.
"Foi o alimento que ajudou os judeus a sobreviver no terrível Cativeiro da Babilônia".
Já o consumo da carne de cordeiro tinha conotação espiritual para muitos povos do Crescente Fértil.
"Os hebreus consideravam-na uma fina iguaria.
Os egípcios devotavam um respeito tão grande ao leite e à lã que criaram tabus proibindo o consumo regular da carne de cordeiro".
A carne de cabrito também é citada na Bíblia, na passagem que fala sobre o retorno do filho pródigo, no Evangelho de Lucas.
As aves eram mais comuns na culinária hebraica.
As refeições incluíam uma grande variedade delas, como perdiz, pombo, galinha-d'angola, ganso, pato, codorna e pardal.
"A história dos bandos de codornas enviadas aos hebreus enquanto eles vagavam pelo Sinai (Números, 11,32; Êxodo, 16,13) tem relação com a migração periódica dessas aves até os dias de hoje.
Durante o inverno europeu, elas migram para o sul, voando sobre a Terra Santa.
A mudança do rumo do vento faz com que muitas delas caiam nas planícies do Sinai".
Há diversas citações sobre os peixes no Novo Testamento, um alimento bem popular entre o povo bíblico.
Segundo os autores do livro, a utilização do peixe como símbolo da igreja faz lembrar a antiga associação que os hebreus faziam entre o peixe e a vinda do Messias.
"Alguns hebreus acreditavam que o Messias viria à terra na forma de um grande peixe chamado Leviatã.
O consumo de peixe no Sabá originou-se das `ceias puras' em que ele geralmente era servido como símbolo de esperança no futuro"
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