28 de set. de 2009

Raabe, de prostituta a heroína da fé



“Pela fé Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias.”

Raabe era uma jovem que vivia em Jericó, na época em que Israel se preparava para conquistar Canaã, sob a liderança de Josué.
As notícias das pragas que destruíram o Egito, e também da maneira como o exército de Faraó se afogara no Mar Vermelho, haviam chegado à sua cidade. Todo o povo de Jericó estava amedrontado e em franco preparo para lutar contra Israel.

Raabe tinha a sua casa construída sobre a larga muralha de Jericó. Ela era uma prostituta cultual, o que era comum em sua época, nos países pagãos de Canaã.
Era a pior forma de prostituição, pois tinha a sanção religiosa.
Homens e mulheres se entregavam aos rituais imorais dos deuses pagãos da fertilidade como forma de culto aceitável.
Os pais entregavam com prazer suas filhas para sacrifícios ou para esses rituais malignos e sensuais, crendo que estavam agindo da maneira mais correta e santa... Era a vida em Jericó.
Era a cultura em Canaã.

Em contrapartida, a lei que o Senhor dera a Moisés proibia que o pai prostituísse sua filha (Lv 19.29); que o sacerdote se casasse com mulher prostituta (Lv 21.7), mui especialmente o sumo-sacerdote (Lv 21.14).
A penalidade imposta para este pecado

era a morte por apedrejamento, ou ser queimada em fogueira, no caso de filha do sacerdote (Lv 21.9). O dinheiro ganho com prostituição era proibido entrar no templo como oferta ao Senhor (Dt 23. 17-18).

Apesar de tudo, a misericórdia de Deus alcançou o coração daquela jovem de Jericó. Sua cidade estava condenada. O que ela fazia era abominável diante do santo Deus de Israel...

Josué mandara dois espias para observarem a cidade e trazerem seus relatórios para ser montada uma estratégia de conquista.
Dois guerreiros entraram em Jericó e pernoitaram na casa de Raabe, citada no texto bíblico apenas como “uma mulher prostituta” (Js 2.1).
Ela, entretanto, os reconhece como israelitas e os esconde entre as canas do linho que havia disposto em ordem no eirado.

Quando os soldados de Jericó, a mando do seu rei, vieram à sua casa procurá-los, ela lhes diz que eles tinham se retirado dali, e que deveriam já ter transposto o vau do rio Jordão.
Assim, ela livrou os espias da morte.
E naquela noite memorável, Raabe abriu seu coração àqueles dois israelitas, dizendo: “Bem sei que o Senhor lhes deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós [...] Agora, pois, jurai-me, vos peço pelo Senhor que, assim como usei de misericórdia para convosco, também dela usareis para com a casa de meu pai; e que me dareis um sinal certo de que conservareis a vida de meu pai e minha mãe, como também a meus irmãos e minhas irmãs, com tudo o que têm e de que livrareis a nossa vida da morte.” (Js 2.9a,12-13.)

Podemos perceber o coração amoroso de Raabe. Ela não pensava apenas em si, em sua salvação individual. Ela poderia ter proposto um acordo de livramento pessoal, ou talvez até mesmo ter fugido com os espias, deixando Jericó entregue à guerra e à destruição.
Mas Raabe amava sua família. Seus pais e irmãos foram carinhosamente lembrados naquele tenso momento.

Em nosso mundo individualista e tremendamente egocêntrico, será que encontraremos “Raabes”? Quando você, querida irmã, recebe um presente especial, um dom da misericórdia do Senhor, se lembra da família? Pensa em dividir as dádivas que Deus tem lhe concedido, levando junto consigo a família? Seu esposo, seus filhos e familiares participam de suas vitórias, ou você come, sozinha, o “maná” que Deus lhe tem proporcionado?

Percebemos também que Raabe agiu por fé, arriscando a própria vida. Ela desceu os espias por uma corda pela janela de sua casa construída na muralha.
O acordo que fizeram para a sua salvação e de toda a sua família, quando a cidade fosse atacada, seria que ela atasse um fio escarlate em sua janela e recolhesse toda a sua família dentro de casa. E assim aconteceu.
Ela deixou aquele fio escarlate atado em sua janela a partir de então, como um sinal, aguardando o dia de seu livramento.

Creio que Raabe não era mais a mesma pessoa a partir daquele encontro com os representantes do povo de Deus.
Ela agora tinha esperança.
Ela tinha sonhos.
Iria fazer parte do povo de Israel e já amava o seu Deus invisível, que era santo, justo e bom.
Raabe não precisava mais se prostituir, pois isto não tinha mais significado para si; pelo contrário, ela podia sonhar até mesmo com um marido, um lar, uma família em Israel...

Muitos anos depois desta história, o Senhor Jesus iria dizer:
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.” (Mt 5.7.) Raabe realmente alcançou a misericórdia do Senhor. Ela e sua família foram salvos de maneira espetacular, quando o povo de Israel marchou sete vezes, no sétimo dia, ao redor de Jericó, e todos gritaram, e tocaram os chifres de carneiro longamente.
As muralhas da cidade ruíram, ficando apenas o trecho onde estava construída a casa de Raabe.

Os jovens espias subiram até a sua casa e tiraram de lá, não só os pais e irmãos da jovem, mas também toda a sua parentela com seus bens.
A casa estava cheia.
Raabe era uma sábia “evangelista”.
Ela levou a salvação a todos os seus parentes.
Saíram da condenação de Jericó para as promessas da “Terra Prometida” de Israel.
Entretanto, Raabe e sua parentela vieram morar “fora do acampamento” do povo de Deus (Js 7.23).
Mas ela não ficou ali de fora da comunhão do Deus que abraçara e aprendera a amar... Ela demonstra genuína fé, ardor e profunda gratidão por sua salvação.
E, por seu testemunho aprovado, ela veio a se casar com um dos príncipes de Judá e recebeu a bênção de participar da genealogia de Jesus (Mt 1.5).
O escritor da Carta aos Hebreus a colocou na galeria dos heróis da fé, mostrando sua atitude corajosa como uma demonstração de sua fé no Deus Vivo de Israel (Hb 11.31). E o apóstolo Tiago, irmão de Jesus, menciona Raabe em sua Carta (Tg 2.25), reconhecendo a sua justificação ao esconder e salvar os espias.

Para você refletir:

Seu coração é misericordioso, querida irmã? Você percebe, ao seu redor, as pessoas que estão em perigo, ou necessitadas de alguma coisa que esteja ao seu alcance, e lhes presta socorro?

Você deseja mesmo a direção de Deus em sua vida, a ponto de abrir mão do que for necessário, casa, profissão, para se dedicar inteiramente ao Senhor? Você conduz a sua família em suas orações e na sua caminhada de fé, ou pensa apenas em si, na sua individualidade?

Você se sente discriminada? Como reage a isto?

Você tem humildade suficiente para aceitar ser colocada “fora do acampamento”?

Raabe não se deixou desanimar.
Não se sentiu excluída ou discriminada pelo povo de Israel.
Ela apenas olhou para a sua grande salvação, para a imensa misericórdia do Deus único e verdadeiro, e testemunhou sua fé e gratidão.
Você tem coração semelhante?

Lembre-se de que ela saiu da posição de “discriminação” e foi colocada entre as princesas de Israel, graças à sua humildade, coragem e fé.

13 comentários:

VKIKUCHI disse...

Edna, muito obrigado pelos seus comentários. Como professor de religião achei-os bastante inspiradores.

Graziele Andrade disse...

Nunca tinha lido um texto tão bom da vida de Raabe! Que Deus abençoe!

Unknown disse...

Adorei ler sobre raabe

Unknown disse...

Adorei ler sobre raabe

Unknown disse...

Muito boa sua reflexão...mas creio que vc se equivocou na referência de Js. 7:23...lá fala sobre a capa de Acã...não diz que Raabe foi morar fora do acampamento.
A referência correta é 6:23...desculpe a observação

LEIDE.MARINHO disse...

Adorei essa bela historia contada nesse trecho.

Só observando. disse...

Gente... Perfeito.
Que visão maravilhosa.

Só observando. disse...

Gente... Perfeito.
Que visão maravilhosa.

Unknown disse...

Meu Deus que texto extraordinário e inspirador...Amei e foi muito edificante pra mim!Deus vos abençoe poderosamente.

Unknown disse...

Admirável esse estudo sobre essa heroína da fe.

Unknown disse...

Adorei

Unknown disse...

Linda reflexão!

Unknown disse...

E forte😊