26 de nov. de 2009

O MISTÉRIO DA PIEDADE.(Luiz Fontes)


"E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória."

Antes de falar sobre esse "mistério da piedade", veja que Paulo primeiro fala sobre a Igreja, que é a "coluna e baluarte da verdade".
Esse assunto começa aqui.
Não podemos estudar o versículo 16 sem estudar o versículo 15.
Aqui temos três palavras impressionantes quanto à vocação e o ministério da Igreja. Essas três palavras formam o alicerce para aquilo que vamos estudar no versículo 16.
Vamos estudar essas três palavras para compreendermos o "mistério da piedade":
"coluna" - No grego é stulos que é um "pilar" ou mesmo "coluna".
A finalidade da coluna, não é apenas manter o telhado firme, mas elevá-lo a uma certa altura, de forma que o edifício possa ser visto facilmente.
Espiritualmente falando, a Igreja sustenta a "verdade" nas altura e forma que o edifício possa ser visto facilmente.
Espiritualmente falando, a Igreja sustenta a "verdade" nas alturas.
A "verdade" na Igreja tem que ser vista por todo o mundo.
"baluarte"- No grego é hedraioma.
Essa é uma palavra que ocorre somente aqui em todo N.T.
Hedraioma fala de um "suporte", "aquilo que dá estabilidade"
No sentido espiritual a Igreja está aqui para manter firme a "verdade", contra todo tipo de heresia e incredulidade.
Nessas duas palavras podemos ver a dupla responsabilidade da Igreja do SENHOR JESUS CRISTO:
Primeiro, a Igreja como "coluna", tem a função de manter a "verdade" nas alturas, de modo que não fique escondida, mas fique em pleno equilibrio.
Nesse aspecto temos a proclamação do evangelho.
Segundo, como fundamento, a função da Igreja é sustentar com firmeza a "verdade", para que ela não seja vencida pelas heresias.
Aqui temos a confirmação do Evangelho.
Agora vamos estudar o sentido da palavra "verdade" nesse texto:
Precisamos compreender a relação que existe entre a Igreja e a "verdade".
Em Efésios 2.20, Paulo disse que a Igreja está edificada "... sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, JESUS CRISTO, a pedra angular" (conferir: 1 Coríntios 3.10,11) "Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.
11 Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.".
Quando Paulo se referiu a esse "fundamento" aqui nestes versículos, ele tinha em vista a saúde espiritual da Igreja.
Mas, quando ele diz que a Igreja é o fundamento da "verdade" aqui em 1 Timóteo 3.15 "Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.", ele faz referência à vocação da Igreja, a sua missão.

Vejamos três proposições importantes aqui:

1ª. A Igreja está aqui para proclamar a "verdade" com firmeza, e assim, torna-la conhecida.
2ª. A Igreja necessita da "verdade", e a "verdade" necessita da Igreja.
3ª. Da "verdade" a Igreja depende para a sua existência, e da Igreja a "verdade" depende para sua defesa e proclamação.
O que é então a "verdade" a qual a Igreja deve proclamar?
A "verdade" a qual a Igreja deve zelar, proclamar sem nenhuma distorção é CRISTO JESUS, de quem Paulo agora vai testificar.

Ele inicia dizendo: "Evidentemente".

Aqui temos o vocábulo grego homologoumenos, aqui temos o verbo no particípio presente passivo de "confessar", "declarar", "adorar"; isso indica que devemos "confessar", "declarar", "adorar" "abertamente sem controvérsia".
Veja bem, não é uma palavra tão simples assim como muitos podem imaginar.
Essa palavra exige que nós em face a encarnação devamos "confessar", "adorar", "proclamar sem controvérsias, unânimes, em uma só voz" que o Filho de DEUS se tornou carne!
Somos colocados diante da união hipostática (existência substancial) da Pessoa do SENHOR JESUS:
Essa união hipostática ensina que Ele é verdadeiramente DEUS; Ele possui todos os atributos divinos que são essenciais e que perfazem a divindade; Mas também, Ele é verdadeiramente homem; Ele possui todas as propriedades essenciais aos seres humanos, e, além disso, assumiu por causa de nossos pecados todas as conseqüências deles.

Definição da "Unio Personalis" ou União Hipostática

Ninguém tem uma personalidade com natureza dupla a saber, divina e humana como SENHOR JESUS.
Quando falamos da natureza divina do nosso Redentor, referimo-nos àquilo que é essencial em DEUS; ou seja, Seus Atributos:Onisciência, onipotência, onipresença, eternidade, imensidão, imutabilidade, auto-existência, transcendência, etc.
A união hipostática envolve o Filho de DEUS, com ambas, a natureza divina e a humana; tornando-se a hupóstasis (substância) da Sua natureza.

Fundamentos bíblicos para essa gloriosa doutrina:

Precisamos compreender que o Logos era DEUS com DEUS (João 1.1)
"NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
"Na encarnação, Logos (verbo de DEUS) não se une a uma pessoa previamente existente, mas tem acrescida sobre si a natureza humana, que é composta de alma e corpo.
Há vários textos bíblicos nas Escrituras que nos fornecem uma base bíblica para a sustentação de uma só Pessoa que possui duas naturezas, vejamos alguns deles;

1- Isaias 7.14:
"Portanto, o SENHOR mesmo vos dará um sinal:
eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel".

2-Isaias 9.6: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, DEUS Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz".
Nestes dois textos que acabamos de mencionar acima podemos ver a união das duas naturezas; por um lado Ele é "um filho", mas por outro Ele é "Emanuel"; por um lado podemos ver que Ele é um "menino", mas por outro Ele é "DEUS forte"; Ele é tanto "um filho", mas também é "Pai da Eternidade".

3- João 1.14: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós".
A Bíblia diz que Ele veio da "... da descendência de Davi" (Rm 1.3).
É interessante notar que a palavra "descendência" aqui em Romanos 1.3¸ é epermatos, que significa "semente".
Essa foi à mesma palavra que vemos em Gênesis 3.16 (R.C.)

4- João 8.58: "Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão existisse Eu Sou". Aqui Ele com a idade de trinta e poucos anos, declara sua preexistência divina.

5-Colossenses 2.9: "porquanto, Nele [em Sua humanidade], habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade

A redenção do pecador exigia que houvesse um Redentor com ambas as naturezas, a divina e a humana:
Essa foi uma exigência decidida no conselho Trinitário acerca do pacto da redenção. O Redentor tinha de ser DEUS para ter o poder de redimir e tinha de ser homem para poder sofrer no lugar daqueles que haveria de redimir.
Assim sendo, linguisticamente, como uma palavra é a expressão de uma ação, ou de um pensamento, o Verbo é a expressão de DEUS, é DEUS tornando expresso em palavras e atitudes.
O Verbo passou a possuir alguma coisa que não lhe pertencia antes da encarnação: carne, isto é, as propriedades da natureza humana.

Vejamos o que diz a Confissão de Fé de Westminster, elaborada no século 17:

"O Filho de DEUS, a Segunda Pessoa da trindade, sendo verdadeiro e eterno DEUS, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre Si à natureza humana com todas as suas propriedades essenciais, com suas enfermidades e debilidades, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do ESPÍRTO SANTO no ventre da virgem Maria e da substância dela.
As duas naturezas, inteiras perfeitas e distintas a divina e a humana foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa Pessoa é verdadeiramente DEUS e verdadeiramente homem, porém, um só CRISTO, o único mediador entre DEUS e os homens".

A distinção na uni personalidade do Redentor:

1. Como DEUS:

1.1 Ele possuía a forma de DEUS;

1.2 Ele tinha a mente de DEUS;

1.3 Ele tinha afeições divinas;

1.4 Ele tinha vontade divina.

2. Como Homem:

2.1 Ele possuía a forma de homem;

2.2 Ele possuía a mente de homem;

2.3 Ele possuía afeiçoes divinas

2.4 Ele tinha vontade humana.

A Redenção é vista como uma compra:

Leiamos o Salmo 49.7,8:
"Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a DEUS o seu resgate.
Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre".
Neste Salmo específicamente precisamos ter uma revelação que transcende à letra, pois o pensamento aqui é o seguinte:
Nenhum homem não pode adquirir com Deus dias adicionais para prolongar sua vida.
Não há dinheiro ou bens neste mundo capazes da pagar o preço de uma vida de um homem para Deus.
Os ímpios vivem numa falsa segurança achando que seu dinheiro, pode comprar obras, e na sua prosperidade pode adquirir algum favor de Deus.
Na Epístola aos Efésios capítulo 2:8-9 Paulo diz:
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie;" A Salvação é pela Graça de Deus, mediante a Fé que também procede de Cristo que é o Autor e Consumador da Fé.

A Fé envolve o nosso conhecimento do Evangelho (Romanos 10:14) "Como, pois, invocarão aquele em quem não creram?
E como crerão naquele de quem não ouviram?
E como ouvirão, se não há quem pregue?
Reconhecimento da Verdade da sua mensagem, e recepão pessoal do Salvador (João 1:12) "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;.
Logo, afirmamos, baseados nas Sagradas Escrituras que as obras não podem definitivamente salvar o homem(Efésios 2:9), mas as boas obras são frutos, e sempre acompanham a Salavação(Efésios 2:10 e Tiago 2:17).
Nesses textos vemos a impossibilidade de um homem remir outro homem.
DEUS é quem tem o direito de posse, e somente Ele pode exigir o preço do resgate.
E foi o próprio DEUS quem O entregou por nós.
Veja o que Paulo diz:
"Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou...(Romanos 8.32).
A vida do Redentor foi o preço exigido por DEUS para o nosso resgate.
Em Mateus 20.28, o SENHOR JESUS disse:
"tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos".
Vamos analisar a preposição "por":

Note que aqui no grego temos a partícula primária anti, que significa:
"em lugar de".
Dando idéia plena de substituição.
O resgate foi pago com a vida do Redentor.
Quando estudamos o Novo Testamento, vemos que a redenção do pecador é vista em termos comerciais.
Vejamos alguns textos

a. 1 Corintios 6.20: "Porque fostes comprados por preço.
Agora, pois, glorificai a DEUS no vosso corpo";

b. 1 Corintios 7.22,23: "Porque o que foi chamado no SENHOR, sendo escravo, é liberto do SENHOR; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de CRISTO.
Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens".

c. Apocalipse 5.9: "E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para DEUS homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação".
Esses textos lançam luz para que tenhamos revelação sobre a obra da Redenção feita por JESUS CRISTO em forma de compra.
Cristo nos resgatou da maldição da Lei que dizia "Toda alma que pecar esta morrerá" então Ele foi até a cruz do calvário e morreu a nossa morte, Aleluia!
Todo escrito de dívida que tínhamos para com Deus, e jamais poderíamos pagar, Jesus Cristo foi à cruz e as encravou ali (Colossenses 2:14)
"Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.
Escrito de Dívida era um Certificado escrito com a letra do devedor.
A Lei Mosaica (simbolizada pela expressão do Apóstolo Paulo neste versículo) nos colocou em dívida impagável para com Deus por causa do nosso pecado; esta dívida Jesus Cristo cancelou, pregando-a na cruz do calvário.
Cristo pagou plenamente a nossa dívida, satisfazendo a mais elevada exigência de Deus, poie mesmo na forma de home Ele não pecou, Ele Si fez pecado, mas não pecou! Nessas passagens, o sentido da redenção é assegurar libertação pelo pagamento de um preço.
O SENHOR JESUS o Filho de DEUS derramou Seu sangue a fim de pagar o preço do nosso resgate.
A quem o Senhor Jesus Cristo pagou o preço pelas nossas vidas?
Lembre-se que estávamos debaixo da ira de DEUS.
Estávamos presos pela justiça de DEUS.
Não foi ao diabo como muitos teólogos e pregadores estão ensinando que Ele teve que pagar para obter o nosso resgate.
Cristo Jesus teve que pagar à justiça de DEUS o valor estipulado para o nosso resgate.
É das mãos de DEUS, que o SENHOR JESUS teve que nos libertar.

Preste bem atenção ao que diz o Apóstolo João em Apocalipse 5.9, diz: Compraste para DEUS homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação".
O SENHOR JESUS nos comprou de DEUS para DEUS.

O Apóstolo Paulo escrevendo aos irmãos em Colossenses 1.13, diz:
"Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor".
Saímos do cativeiro da ira e fomos transportados para o reino do "Filho do Seu amor".

Conclusão:

Após ter visto esse assunto maravilhoso sobre o "mistério da piedade" pudemos ter um vislumbre da misericórdia, do amor e da graça de DEUS.
Creio, que nossa compreensão ainda é limitada sobre esse assunto.
Precisamos da ajuda do ESPÍRITO SANTO de DEUS para que possamos absorver esse ensino maravilhoso.
Nós de nós mesmos jamais poderemos entender o amor à graça e misericórdia de DEUS. Somente olhando para a nossa redenção, é que poderemos contemplar o quanto nosso Pai bendito dispensou do Seu amor, graça e misericórdia para nos salvar.

Importantíssimo sabermos que a nossa salvação não foi algo tão simples para Ele, como muitos podem imaginar.
Ter que entregar Seu único Filho, para morrer por nós foi sem sombra de dúvida uma atitude que envolveu essas três palavras amor, misericórdia e graça.
Há muito que se aprender nesse mistério da piedade, mas creio que o ESPÍRITO SANTO de DEUS irá nos ajudar a compreender.


BIBLIOGRAFIA

A Mensagem de 1 Timóteo e Tito - John Stott - ABU

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

A União das Naturezas do Redentor - Heber Carlos de Campos - Editora Cultura Cristã.

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