O homem foi criado em glória e honra (Sl 8.5), sem pecado, inclinado à justiça (Ef 4.24) e vivia em comunhão com Deus.
Essa comunhão foi interrompida pela corrupção do pecado (Is 59.2).
A humanidade, desde então, vive separada de Deus (Rm 3.23), já que a herança pecaminosa é transmitida de geração em geração (1 Pe 1. 18).
Mas Deus já tinha um plano para a redenção do homem através de Cristo (Ef 3.11).
De fato, logo depois da queda, Deus manifestou seu plano: da semente da mulher levantaria alguém que destruiria o inimigo e redimiria o homem (Gn 3.15).
Assim, a reconciliação do homem com Deus é um propósito eterno do Senhor.
Definição de Reconciliação
Reconciliação é mudança que ocorre em um relacionamento hostil, de forma que esse relacionamento passa a ser amistoso e pacífico.
No contexto do cristianismo, é um novo relacionamento entre Deus e o homem, em que Deus dá uma oportunidade ao homem de, através de Cristo, participar de sua glória; e o homem, por sua vez, através da fé, submete-se ao sacrifício de Cristo e renuncia ao pecado.
Com seu caráter transformado, o homem pode experimentar da presença de Deus e ter esperança na vida eterna, já que Deus remove a causa da sua perdição.
A Reconciliação ocorre por iniciativa divina
A Reconciliação do homem com Deus é de iniciativa divina.
Para promover a justiça, Deus não voltou-se contra a humanidade pecadora, mas contra o império do pecado.
Deus nos amou quando ainda éramos seus inimigos (Rm 5.8).
Deus é o diretor da redenção da humanidade (2 Co 5.18).
A partir da manifestação de sua graça salvadora, nós passamos a temê-lo e a corresponder a esse amor (1 Jo 4.18,19).
O ser humano é objeto passivo nessa reconciliação.
Deus promove, através dessa iniciativa, a paz com o homem justificado (Rm 5.1).
Mais que declarar alguém como justo, não mais lhe imputando os pecados, Deus quer o envolvimento pessoal do homem com sua glória e com a sua obra.
A correspondência ao apelo divino proporciona ao ser humano a modificação de seu caráter, a cobertura, o perdão e a purificação dos seus pecados.
Somos Reconciliados através de Cristo
A iniciativa reconciliadora de Deus se dá por meio de Cristo (2 Co 5.18,19).
É em Cristo que somos recriados (2 Co 5.17).
Somente através de Cristo podemos chegar a Deus (Jo 14.6-11).
A purificação dos pecados, a justificação e a santificação se dá por Ele.
A morte expiatória de Cristo removeu a barreira que impedia a reconciliação do homem com Deus. A dívida decorrente de nosso pecado foi quitada no sacrifício de Jesus que nos perdoou e nos vivificou (Cl 2.13,14).
Pelo derramamento do sangue de Cristo Deus expressa sua justiça contra o pecado e ao mesmo tempo justifica o homem que aceitar pela fé esse sacrifício (Rm 3.25).
O homem recebe gratuitamente a redenção.
Jesus, em seu ministério terreno, viveu uma vida sem pecado (Jo 14.30; Hb 4.15; 1 Pe 2.22).
Por isso, quando Paulo fala que Cristo se fez pecado por nós (2 Co 5.21) ou que se fez maldição por nós (Gl 3.13) não está se referindo, evidentemente, à forma como Jesus viveu em seu ministério terreno.
Paulo fala da morte de Cristo que não teve pecado como conseqüência de pecados que não eram seus.
Foi tratado como um pecador em sua morte.
Assim, o pecador que nEle crer terá vida
(Jo 3.16; 11.25).
Cristo morreu por todos os pecadores (Cl 1.20; Hb 2.9; 1 Jo 2.2).
Porém, somente os crentes serão salvos.
Aqueles que rejeitarem o sacrifício de Cristo permanecerão em condenação, sob o domínio do pecado.
Somos frutos da Reconciliação
Cristo chamou diretamente os apóstolos para ministrarem a reconciliação à humanidade (Mt 28.19; At 9.15; 22.15).
A Igreja cresceu e os novos convertidos também se tornavam ministros de Cristo e proclamavam o Evangelho.
Deus continua a agir através do ministério dos que já foram reconciliados (2 Co 5.18).
Fomos alcançados em nossa era porque alguém já militava na fé e nos anunciou o evangelho.
O crescimento da Igreja, portanto, se dá por causa do anúncio da mensagem reconciliadora entre os perdidos.
Cada novo convertido é alguém que morreu para o mundo (Jo 12.24) e para o domínio do pecado.
Assim, inicia uma nova vida, não para si, mas para Cristo e para a Igreja.
Morremos para o mundo
Só há reconciliação se as duas partes em conflito concordarem em esquecer o passado para viver um novo relacionamento.
A iniciativa reconciliatória de Deus espera encontrar no ser humano a correspondência necessária para a consolidação da comunhão.
Se alguém não fizer sua parte reconhecer seus erros, arrepender-se e deixar a vida pecaminosa– o sacrifício de Cristo será em vão para o perdão de seus pecados e não há reconciliação.
Nem todos os pecadores serão reconciliados, porque desdenham da oferta de Deus.
Nós deixamos de viver como o mundo, mas isso não significa que devemos desprezar quem no mundo está.
Assim como nós fomos alcançados, outros, no mundo, também serão.
Não vivemos por nós
vivemos por Ele
A palavra de reconciliação que Deus nos deu (2 Co 5.19) é mostrar o que Ele fez através de Cristo e não o que nós mesmos fazemos para Cristo; mostrar o que está por trás de nosso ministério e não mostrar o ministério.
O egocentrismo dá lugar ao Cristocentrismo.
Paulo diz que todos nós morremos, já que Cristo morreu (2 Co 5.14).
Isso mostra que o pecado e a morte, esta como castigo pelo pecado, já não têm domínio sobre nós (Is 53.5; Rm 6.14).
Morremos para nós mesmos e vivemos por Cristo. Os que aceitam o sacrifício de Cristo experimentam a mudança em sua maneira de viver.
Os que realmente esperam a vida eterna já começam, na vida terrena, a responder a esse sacrifício, a mudar o modo de vida.
Como na sociedade humana é promovida a busca dos próprios interesses em detrimento da justiça, do interesse coletivo e da vontade de Deus, os verdadeiros cristãos, que realmente pertencem a Cristo, são distinguíveis no meio da multidão.
O amor de Deus é nossa motivação
A força que impele o cristão, que não lhe deixa alternativa, que o constrange ao serviço do Reino, a dedicar sua vida aos outros é o amor (2 Co 5.14; Gl 2.20).
O amor é um dos atributos de Deus com ressonância nos salvos; esse amor nos atinge e reflete em nós amor por Ele e pelo próximo
(1 Jo 4.7-21).
Deus nos fez Ministros da Reconciliação
O ministério cristão implica em buscar servir, independentemente do reconhecimento dos outros. A própria consciência é que testemunha perante Deus sobre a fidelidade no ministério (2 Co 1.12).
O ministro é encarregado por Deus, mas isto não significa ter privilégios pessoais em relação à comunidade a que serve.
Somos ministros da reconciliação porque nosso ministério é decorrente da graça divina que nos proporcionou a reconciliação, porque a reconciliação é atividade constante no desempenho do ministério e pertence ao ministério, porque anuncia ao mundo que todos podem reconciliar-se com Deus.
Assim, o ministro não somente anuncia, mas age, utilizando seus recursos pessoais, em prol da reconciliação.
O ministro promove a harmonia e o amor onde há confusão e ódio.
Trabalhamos para a Igreja reconciliar-se com Deus
Paulo mostra sua atividade reconciliadora na primeira carta aos coríntios: instrui contra os partidos que causam divisão (1 Co 1.12); condena os processos judiciais em cortes pagãs onde as partes são membros da igreja (1 Co 6.1-11); estabelece regras para os problemas matrimoniais (1 Co 7.15); pede paciência e compreensão com os fracos na fé e diferenças de opinião (1 Co 8.1-13); promove a justiça social na celebração da Santa Ceia (1 Co 11.17-22).
A segunda carta aos coríntios é uma tentativa de reconciliação de si próprio com os irmãos em Corinto.
Deus nos dá o grande privilégio e responsabilidade de compartilhar nossa experiência reconciliadora com os outros e chamá-los para a mesma reconciliação.
Somos embaixadores de Cristo (2 Co 5.20) para proclamar aos homens os termos da paz de Deus.
Não agimos em nosso próprio interesse, mas operamos no interesse da soberania divina. A autoridade que temos não é nossa, é comissionada por Cristo.
Paulo implora aos coríntios para que se reconciliem com Deus.
Essa manifestação é dirigida não aos perdidos, mas aos crentes da Igreja.
A necessidade de reconciliação permanece visível na igreja de Corinto:
o comportamento mundano de seus membros e a facilidade com que aceitavam a pregação de falsos apóstolos, entre eles os detratores de Paulo.
Com esse apelo, Paulo quer que os coríntios, embora salvos (2 Co 1; 2.3), aproximem-se mais de Deus e exerçam com maior dedicação o ministério da reconciliação.
Cabe a cada um de nós reconciliarmo-nos com Deus, reconhecendo nossas fraquezas e nossas culpas.
Deus, em seu infinito amor, cumprindo seu propósito para nossas vidas, nos acolherá (1 Jo 1.9).
Tememos a Deus
Todos nós prestaremos contas do modo como vivemos neste mundo (2 Co 2.10).
Seremos julgados pela forma como reagimos às tentações (Tg 1.12), pela nossa fidelidade (Ap 2.10), pela disciplina pessoal útil (1 Co 1.25), pela retidão e desejo da vinda do Senhor (2 Tm 4.8), pelo cuidado voluntário, desinteressado e solícito com a Igreja (2 Pe 5.2-4), pelo tratamento dado aos obreiros (Mt 10.41-42) e pela vitória na fé (2 Tm 4.7,8; Ap 2.7,26-28).
O uso de nosso corpo tem significado moral e trará conseqüências eternas.
Em face dessa realidade futura, em que tudo será contado no Tribunal de Cristo, Paulo mostra seu temor a Deus.
Não se trata de medo do castigo divino; o sacrifício de Cristo é suficiente para nos livrar da condenação.
E Paulo tem confiança nos resultados de seu labor (2 Co 5.8).
Esse temor produz um zelo na obra de Deus típico de seu apostolado e que é referência para todos nós.
É a reverência à santidade de Deus e a adoção de um modo de vida direcionado pela santificação.
De outra forma, um modo de vida pautado na busca de riquezas materiais e de poder, que confia nos recursos mundanos a sua segurança futura, sem a preocupação com a vontade de Deus, implica em desrespeito à providência divina e afronta o amor, a santidade e a justiça de Deus (Lc 12.16-21).
Persuadimos os homens
Como conseqüência do temor a Deus, Paulo se esforça na pregação do Evangelho tentando persuadir os pecadores de sua situação espiritual desvantajosa; ao mesmo tempo em que mostra a abundante graça de Deus na obra de Jesus Cristo (2 Co 5.11).
Nem todos são convencidos por Paulo (At 26.28).
A pregação não é pressão psicológica sobre seus ouvintes, mas a demonstração clara da mensagem da salvação.
O Evangelho, mesmo sendo paradoxal, mesmo parecendo loucura, é o poder de Deus para a salvação dos perdidos (Rm 1.16).
Deus apela ao pecador e o chama para a reconciliação com Ele através de nosso ministério.
Persuadir é mostrar o pecado e convencer as pessoas ao arrependimento.
O ministério deve ser exercido no temor de Deus, tendo consciência que Deus nos conhece e nos sonda (Sl 139).
Isso mostra o genuíno evangelho que nem sempre agradará a todos; a preocupação do evangelista, assim como fez Paulo, é primeiramente agradar a Deus correspondendo ao seu supremo propósito.
A persuasão evangélica é um serviço prestado para Deus em favor das almas e da Igreja, e não para o benefício pessoal do evangelista.
O fruto que evidencia o sucesso da persuasão, aos olhos de Deus, é o autêntico temor a Deus produzido na vida de quem recebeu a mensagem.
Somos transparentes a Deus e aos homens para a edificação da Igreja
A vida de Paulo é sincera diante de Deus e transparente perante a Igreja
2 Co 2.11).
Ele sabiamente prega o verdadeiro Evangelho, fundamentado em Cristo, consciente que sua obra deverá resistir ao teste pelo fogo do julgamento de Cristo
(1 Co 3.10-13).
Em sua pregação Paulo mantém-se transparente a Deus e aos homens
(2 Co 5.11).
Não conforma o evangelho à mente de seus ouvintes, mas procura mudar suas mentes e corações para que a vontade de Deus se manifeste na vida de cada um.
Sua retórica não se sobrepõe à verdade; pelo contrário, esclarece-a.
Por isso, o apóstolo mostra que as experiências extásticas são adequadas para momentos de comunhão íntima com Deus.
Paulo ensina que, no convívio com a Igreja, na comunhão com os santos, a comunicação deve ser sóbria e compreensível
(1 Co 14.2-4; 2 Co 5.13).
O princípio nesta lição é de que tudo o que for feito deve ser direcionado à edificação, tanto do ministro como da Igreja.
Rejeitamos o modelo do mundo
O cristão, militando em sua fé, convive com o mundo.
Entretanto, essa convivência não implica em deixar-se influenciar pela pecaminosidade.
O secularismo impõe modelos atrativos para o ser humano.
O sistema mundano sustenta-se no tripé:
hedonismo, materialismo e egoísmo (1 Jo 2.16).
Os apóstolos Paulo e João advertem os cristãos a superarem os apelos do mundo (Rm 12.2; 1 Jo 2.15,17).
A reação cristã é de repudiar essa vaidade, voltando a mente para a realidade espiritual e buscando o melhor entendimento dessa realidade.
A renovação do entendimento (Rm 12.2) é a conformação da mente ao modelo de Cristo.
O serviço abnegado aos outros no interesse do Reino é resultado dessa conformação
(Fp 2).
O ministro proclama a reconciliação não somente por palavras, mas também pelo comportamento e envolvimento pessoal.
O discernimento é orientado por Cristo
A forma como reagimos às pessoas deve superar os critérios pecaminosos de julgamento (2 Co 2.16).
Os critérios mundanos consideram a capacidade intelectual, a influência política, o poder econômico e a aparência física, e isso, absurdamente, nos daria uma imagem derrotista do próprio Jesus (Is 53).
Esse tipo de julgamento forma imagens irreais, distorcidas da realidade espiritual. Diante de Deus todos os homens necessitam da salvação através do Evangelho de Jesus Cristo.
Temos a missão e a visão reconciliadora
Quando Paulo roga aos coríntios que se reconciliem com Deus, requer que olhem para Deus, orientem sua vida de acordo a sua vontade, entendam que não vivem mais por si, mas por Cristo (2 Co 4.15; Gl 2.20).
É a visão de Deus que deve nos orientar nos relacionamentos
(2 Co 5.16)
Cultivar qualquer tipo de inimizade contra alguém mostrará que a reconciliação com Deus ainda precisa ocorrer (1 Jo 4.20).
A total reconciliação com Deus respinga em nossos relacionamentos e faz deles motivos para a glória do Senhor.
A capacidade de perdoar é fundamental para isso; quem não consegue perdoar o próximo não obtém o perdão de Deus pelos seus pecados (Mt 6.14-15).
Reconciliar-se com Deus é adotar o ponto de vista divino para orientar nossos relacionamentos; assim como Deus abriu as portas para nos reconciliar quando éramos seus inimigos (Rm 5.8), cabe a nós abrir as portas da reconciliação com o próximo mesmo quando são nossos inimigos
(Mt 5.23,24).
Cristãos irreconciliáveis entre si não conseguem discernir a grandeza do ministério da reconciliação.
Na Igreja primitiva havia uma grande dificuldade da parte dos judeus convertidos ao cristianismo aceitarem os irmãos não judeus.
Talvez seja por isso que Paulo, antes de ministrar a reconciliação na Espanha, tenha se preocupado em levar a oferta dos cristãos gregos para os necessitados judeus
(Rm 15.24-28,31).
A missão da Igreja e de seus ministros é ser, a exemplo dos apóstolos, a força reconciliadora.
Deve ir além da pregação da doutrina; deve agir de forma a proporcionar aos homens a reconciliação com Deus, ajudar efetivamente os necessitados e promover a cura dos efeitos nocivos do pecado.
FONTES:
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São Paulo:
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CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento Interpretado:
versículo por versículo:
Volume 4: 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios.
São Paulo: Hagnos, 2002.
CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento Interpretado:
versículo por versículo:
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Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João, Judas, Apocalipse.
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Pregação realizada em 2/7/2007 na Assembleia de Deus Missões em Campo Grande, MS. Vídeo disponível na Internet em http://www.iadcg.org/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=215&Itemid=2 em 1/2/2010.
GARLAND, David E. The New American Commentary:
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Broadman & Holman Publishers, 1999.
RENOVATO, Elinaldo.
Antropologia: a doutrina do homem.
In: Teologia Sistemática Pentecostal.
Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
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