Para saber o que é o pudor e o impudor no homem e na mulher, cada um deles deve ter em conta a diferença natural de percepção do outro.
Já referimos que o homem reage naturalmente, de modo automático, perante os valores meramente carnais do sexo feminino, enquanto que a mulher não sente habitualmente essa mesma atração imediata perante o corpo do homem.
Por outro lado, o que é pudico ou impudico depende da situação em que nos encontramos e da função que tem que cumprir o vestuário.
Não é o mesmo estar a tomar banho que estar numa festa.
O que é perfeitamente apresentável como fato de banho, é totalmente inadequado como fato de festa.
Aparecer numa festa de sociedade em fato de banho, é apresentar-se de modo impudico, destacar o estritamente sexual.
E assim o sentirão todos os presentes.
O pudor não se pode reduzir, portanto, a centímetros de roupa. Depende de um conjunto de factores que influem na percepção que os outros têm de nós. Depende das diversas situações e da função do vestuário e depende também dos costumes no modo de vestir. Se, numa sociedade em que todas as mulheres andassem com as saias até ao tornozelo, uma se apresentasse com a saia a meio da perna, chamaria a atenção. E a atenção recairia sobre aspectos significativamente sexuais.
Por outro lado, as mesmas mulheres que andavam com as saias até ao tornozelo, quando chegava a hora de ir trabalhar para a horta, não tinham nenhuma dúvida em recolher as saias, pois a situação assim o exigia, para não estragar a pouca roupa que tinham.
E ninguém considerava que aquilo fosse impudico.
Se todas as mulheres andam com a saia a meia perna, isso não chamará a atenção, nem provocará uma consideração basicamente sexual do corpo.
Mas nem tudo é uma questão de costume.
Há certas leis características da percepção que reclamam a atenção sobre um ou outro aspecto do corpo.
Determinados tipos de decotes ou mini-saias, roupas cingidas, etc., não podem deixar de chamar a atenção sobre os aspectos provocativamente sexuais do corpo feminino.
E não é questão de mais ou menos roupa.
Pode ter mais roupa e menos pudor.
Podemos ver isso, nalguns casos, na nossa sociedade.
Isto é também o caso de certas tribos sem cultura nem técnica, que habitam em zonas húmidas e quentes.
As circunstâncias de ambiente e a sua falta de técnica tornam impossível a roupa adequada, pelo que andam quase nus.
O pudor costuma expressarse dissimulando o estritamente sexual, mediante uma simples faixa.
Mas quando uma mulher quer chamar a atenção do homem, o que faz é precisamente cobrir o peito.
As leis da percepção fazem que isso chame mais a atenção, uma vez que nunca anda coberta.
E o que não se vê, mas se imagina, é mais provocativo que o que se vê normalmente, porque as circunstâncias fazem que esse modo elementar de vestir seja o único possível e, portanto, que seja pudico.
Nessas circunstâncias, a percepção do conjunto da sociedade está habituada a expressar o pudor e o impudor sempre da mesma maneira.
Uma percepção deste género seria impossível num lugar como o nosso, no qual o clima exige cobrir-se em determinadas épocas.
O simples fato de andar vestido em certas alturas altera totalmente a percepção da intimidade corporal.
Se estamos habituados a ver-nos vestidos, a nudez tem um significado totalmente diferente, destaca uma "disponibilidade" sexual que não se apresenta na percepção de quem por necessidade anda habitualmente nu.
Há aqui uma legalidade natural que nenhuma vontade pode alterar, nem sequer pelo desejo de uma pretendida naturalidade.
O natural para o homem depende da sua formação cultural, pois essa formação altera a sua constituição neuronal e estabelece modos naturais de percepção, dificilmente alteráveis.
O fenómeno contemporâneo da perda do pudor e do nudismo é algo totalmente diferente da nudez habitual e constante dos "bons selvagens".
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