O uso de óleo para unção do corpo era bastante utilizado no mundo antigo, com emprego na medicina, na cosmética e também num sentido simbólico e religioso.
Vários tipos de unção
A Bíblia menciona a unção com óleo com vários propósitos:
a) Para cuidar do corpo ou cuidados da beleza (Rt 3.3; Et 2.12; 2 Cr 28.15; Jz 16.8; Ez 16.9; Mt 6.17).
Era omitido em períodos de luto (2 Sm 14.2; 12.20) ou grande tristeza (Dn 10.2,3), pois significava alegria (Pv 27.9; Sl 45.7; Is 61.3).
b) Com propósito medicinal (Is 1.6; Jr 51.8; Lc 10.34).
Era muito comum o uso de óleo para inchaços e feridas de diversos tipos; machucados, cortados e qualquer tipo de ferimento.
c) Era oferecido a um convidado de honra (Sl 23.5; Lc 7.38,46; Jo 11.2; 12.3)
d) Também usado para honrar os mortos (Mc 16.1; Gn 50.2; 2 Cr 16.14) ou para preservar o corpo.
e) A unção cerimonial.
Esta é a unção formal de um Sacerdote (Ex 28.41), profeta (1 Rs 19.15,16) ou de um Rei (1 Sm 10.1; 16.3,12).
A idéia desse tipo de unção é de separação e consagração, isto é, dedicação da pessoa a determinada tarefa.
Derramado sobre a cabeça da pessoa, o óleo cobre o corpo.
A idéia é de revestimento de poder e autoridade.
O verbo grego correspondente ao hebraico nesse tipo de unção é “Chrio”, uma palavra cognata de Christós, que deu origem ao nome Cristo.
Portanto, a palavra “Cristo”, significa:
O Ungido, o Separado por Deus para um ministério especial.
f) Também era usado para consagração de objetos (Ex 30.22-33; 40.9), com o mesmo propósito de separação.
Qual o sentido de ungir os doentes, na orientação de Tiago?
1. Poderia ser o uso do óleo como remédio, acompanhado de oração.
Encontramos algumas recomendações para uso do remédio, na Bíblia, além da oração. Vinho também era usado como medicamento, tanto para uso tópico (Lc 10.34) como oral (1 Tm 5.23).
Também eram usados emplastos (Is 38.21; 2 Rs 20.7) e sal para esfregar o corpo (Ez 16.4).
O verbo “ungir” em Tiago 5.14,é “aleipho”, que quer dizer “friccionar, aplicar sobre, esfregar”.
Para as doenças daquele tempo, havia um remédio muito comum:
o óleo de oliva, que ainda hoje é muito rico em propriedades curativas.
Tiago poderia estar sugerindo que fizessem oração, mas não deixassem também de usar de medicamentos que estivessem à disposição.
2. Tiago poderia estar sugerindo o uso do óleo meramente como sinal visível e tangível da manifestação do Espírito de Deus, pois é isto que ele simbolizava (1 Sm 16.13; Zc 4.1-6; Lc 4.18; At 10.38; 2 Co 1.21; 1 Jo 10.20), pois embora os antigos considerassem o azeite de oliveira dotado de propriedades medicinais, nunca se pensou entre eles que o azeite fosse capaz de curar toda e qualquer enfermidade.
Jesus usou lodo para curar um cego de nascença (Jo 9.6)
- A Mishnah menciona essa prática da aplicação de lodo, preparada com argila e saliva, a olhos enfermos apenas como um sinal tangível e não como remédio, pois a cura foi instantânea.
Tiago certamente sabia que o azeite não curava todas as doenças, mas recomendou o seu uso para todos os doentes.
3. A doença poderia ser o resultado de desobediência, pecado, na vida do crente (1 Co 11.30), pois Tiago fala de confissão e perdão de pecados neste contexto.
O pecado afeta não somente a saúde espiritual, mas também física (Sl 32).
Poderíamos pensar que no AT o líder religioso cumpria o papel de tratar as doenças (Lv 13.2,3; Mt 8.4) e que Tiago estaria transportando este conceito para a igreja, Mas se havia pecados que resultaram na doença, os presbíteros seriam os representantes da igreja, que recebeu autoridade do Senhor para perdoar pecados (Jo 20.23).
Por estar enfermo, o crente não poderia ir à igreja, de modo que chamaria os anciãos. O azeite seria um sinal do Espírito Santo, que purifica o crente (Tt 3.5; 1 Co 6.11).
Algumas observações adicionais:
Tiago não apresenta uma fórmula genérica para curar a todos, pois a cura, como resposta à oração, depende da vontade de Deus (1 Jo 5.14).
Deus às vezes permite a doença (Jo 11.37; Gl 4.13,14; 1 Tm 5.23; 2Tm 4.20).
Noutros casos, Deus resolve levar seus amados santos ao céu, durante uma enfermidade (2 Rs 13.14,20).
De uma maneira geral, podemos dizer que Deus quer curar as enfermidades, mas em casos específicos, vemos que alguns não foram curados (Jo 5.3-9; Fp 2.25-27; 2 Tm 4.20; 1 Tm 5.23).
Jesus nunca mandou ungir enfermos com óleo, mas é certo que, pelo menos uma vez, (Mc 6.13) se tem notícia de que os apóstolos ungiam enfermos com óleo e os curavam. Evidentemente, eles o faziam dentro dos costumes correntes entre os judeus, que eram do conhecimento de Jesus, pois Ele mesmo se refere a unção como ato de dignidade para um visitante e também no sepultamento de um morto.
A verdadeira ênfase no texto bíblico de Tiago, capítulo 5 não é sobre o óleo, mas sobre a oração, citada várias vezes.
É a oração da fé que salva o doente e não a unção com azeite.
Jesus orientou seus discípulos a orarem com fé (Mt 21.22; Mc 11.24) para receber dádivas de Deus.
A fé foi destacada pelo Senhor na cura dos enfermos (Mc 16.17,18).
Pela oração também os pecados são perdoados
(1 Jo 5.14-16).
O óleo não é usado para outros fins, como atrair prosperidade (ungindo-se carteiras ou bolsas), “espantar” demônios (ungindo-se portas e janelas, roupas, etc), nem para abençoar um ambiente.
Não devemos atribuir qualidades místicas ao azeite, seja aquele do tipo comum, vendido no supermercado ou qualquer outro com características aromáticas, como bálsamo ou mirra.
Este tipo de coisa revela-se apenas em superstição e dá oportunidade de alguém aproveitar-se da fé ingênua de alguns crentes.
Não vivemos mais na era da Lei, carregada de símbolos, mas na era da graça, quando Cristo e o espírito Santo estão presentes de forma real e permanente na vida do crente.
Existem algumas passagens bíblicas difíceis de entender e que são muitas vezes usadas para apoiar doutrinas distorcidas.
Uma destas, sem dúvida, é esta em que Tiago recomenda o uso de óleo nos enfermos.
Um dos desvios de interpretação de unção é o sacramento da extrema unção, usado pela Igreja Católica Romana, ministrado às pessoas que estão para morrer.
Esta unção não foi recomendada àqueles que estão morrendo, mas ao que estão doentes e querem ser curados.
A idéia é de restabelecimento e não preparação para a morte.
Carlos Kleber Maia
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