Do mesmo modo que o consumo excessivo e habitual de álcool acaba por provocar uma habituação fisiológica que leva ao alcoolismo, o consumo excessivo do erótico provoca uma dependência inevitável e uma sobreexcitação habitual, ao mesmo tempo que reduz a capacidade de contemplação estética da sexualidade.
Como o paladar estragado pelo picante, o gosto sexual estragado pelo erótico necessita de níveis cada vez maiores de excitação.
Torna-se incapaz de gostar dos sabores delicados e começa a procurar sensações cada vez mais artificiosas e violentas, até terminar nalgum dos muitos desvios possíveis e no aborrecimento mais completo.
Sobrealimentar o instinto sexual conduz a um funcionamento desorganizado da imaginação e dos desejos sexuais, do mesmo modo que, se um motor tem demasiada gasolina dentro, não funciona bem, afoga-se.
Se uma quantidade excessiva de álcool tem como consequência inevitável a embriaguês, também o sexo tem um tipo de embriaguês particular.
Já vimos que a ruptura interior faz com que o instinto não esteja dominado totalmente pela liberdade.
Por vezes pode haver uma resposta psicológica ou fisiológica desordenada e à margem da vontade.
Também neste caso, há que distinguir entre o mero descontrolo dos instintos e a vontade que consente o mal.
Sentir não é consentir.
A falta de domínio pode fazer que venham à imaginação todo o tipo de imagens estranhas, como pode provocar os desejos mais violentos de qualquer aberração.
Nesses casos, basta que a vontade se oponha e se distancie desses sentimentos, que muitas vezes não se podem evitar.
E essa vontade levará a afastar-se, dentro do possível, do motivo ou das ocasiões que o produzem.
Travar esses impulsos da imaginação e do desejo é o único meio de ir educando essas faculdades, para que sirvam adequadamente à capacidade de amar que temos.
Só essa educação conseguirá integrar os diversos níveis da nossa sexualidade e fazer que o corpo e a mente sejam bons instrumentos do nosso amor.
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